Três pontos, com ou sem superstições

Gatito Fernandez, goleiro do Botafogo F.R. 📸 @gatitofernandez

Por Lucas Compan, um publicitário botafoguense em New York


Nunca vi tanta festa aqui em New York após uma vitória do Botafogo de Futebol e Regatas, dessa vez sobre o Red Bull Bragantino. A cidade toda celebra com toneladas de fogos de artifício. A festa, na verdade, está rolando no país inteiro. É o Botafogo Without Borders.

Essa vitória bem no 4 de julho, Dia da Independência dos EUA, foi uma bela coincidência. O Fogão levou os 3 pontos e o fogaréu começou bem ao apito final. O jogo foi bom? Não. Talvez o pior do Brasileirão até agora. Mas valia os mesmos três pontos dos jogos bonitos de se ver.

Engraçado como as superstições imperam em grande parte da torcida botafoguense. Já me falaram que os fogos antes das partidas no Nilton Santos, “tiram a concentração dos deuses do futebol” que ajudam o Alvinegro; daí, o rendimento ruim nos jogos em casa. Outros dizem que casa cheia faz o time não jogar bem.

Nas redes sociais, se vê outra superstição: todas as vezes que os jornalistas do globo esporte avaliam o Botafogo como não favorito no jogo (como no score abaixo), a vitória alvinegra é certa. Isso não é nada científico ou, muito menos, combina com profissionalismo—outros dirão.

A verdade é que não se sabe ao certo onde todas essas superstições tiveram origem. Mas muito provavelmente, surgiram com o lendário Carlito Rocha, nascido no ano de fundação do Club de Regatas Botafogo (1894), campeão carioca em 1912 (como jogador), em 1935 (como técnico) e presidente do Glorioso entre os anos 1948 a 1951. Foi o grande líder do título Carioca de 48. Barba, cabelo e bigode.

Fez de um cachorrinho, o célebre Biriba, o mascote do Clube. Em dias de jogos, mandava dar nós nas cortinas da sede de General Severiano, para que as pernas dos adversários se entrelaçassem em campo, durante os jogos. Dava gemada na boca de todos os atletas após as partidas. “Para jogar bola melhor, não para sair com as mulheres,” recomendava Carlito.

O craque-enciclopédia Nilton Santos, conta em seu livro “Minha Bola, Minha Vida” que se Carlito Rocha entrasse num táxi e o motorista desse ré, ele descia e pegava outro. Quando o dia amanhecia nublado, com o Cristo Redentor encoberto, ele ficava de cara fechada, preocupado com o resultado do jogo do Botafogo.

Fogos celebrando o 4 de Julho, Dia da Independência dos Estados Unidos da América. Foto @lucascompan


Se ele achasse que alguém fosse pé-frio, pronto, seria persona non grata no Clube. “Não deixa ele te abraçar, dá azar para o próximo jogo,” dizia Carlito, que só assistia aos jogos do Botafogo com a mesma roupa. E colocava açúcar no paletó para dar mais sorte.

Nilton Santos lembra que “Carlito era incrível. Só vivia para o Botafogo e no Botafogo. Concentrava conosco, conversava e nos orientava—um verdadeiro pai. Carlito Rocha foi, com certeza, um dos reais botafoguenses que conheci na época de jogador. Era muito respeitado por todos. Para ele, só existia o #Botafogo. Nós éramos sempre os maiores e os melhores.”

Salve, Carlito! Salve, Nilton Santos! Salve, Gatito! E salve os 3 pontos, com ou sem superstições.

SAF BOTAFOGO 📸 @gatitofernandez


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