O torcedor, esse eterno insatisfeito

Por Lucas Compan, publicitário apaixonado por futebol, Botafogo e New York City


⭐️ O torcedor é um ser humano eternamente insatisfeito. Óbvio, têm coisas realmente difíceis de engolir. Um placar de 0x5 para um time de menor investimento, por exemplo, é uma delas. Vamos tentar, porém, ver esses eventos dentro de um contexto.

A adaptação é um mecanismo que nos faz sobreviver nas condições mais adversas. Quando nosso ambiente muda, usamos uma série de recursos para nos adaptar às novas circunstâncias. Essa é a razão pela qual conseguimos superar a morte de uma pessoa amada ou uma perda importante.

Nos adaptamos, também, a eventos positivos e a situações que produzem prazer e alegria, a ponto de pararmos de avaliá-las e elas deixarem de produzir satisfação. A Psicologia chama isso de 'adaptação hedonista.' Com o tempo, a alegria e a excitação que despertaram motivações, desaparecem, perdem sua novidade e começamos a vê-las como garantidas.

O problema dessa adaptação chamada de hedonista é que pode-se cair num ciclo infinito de insatisfação. Não importa o quanto uma situação tenha melhorado, sempre desejaremos mais. Assim que atingimos um objetivo, ele parece insuficiente e desfrutamos muito pouco do que alcançamos, porque já temos nossas energias no próximo objetivo.

Voltamos para a série A? Ótimo. Mas quando teremos dinheiro? Opa! Estamos ricos! Quem virá na primeira janela de transferência? Nomes bons vieram. Mas e a segunda janela? Por que o James Rodriguez não foi contratado?

Mesmo que o James venha, rapidamente o esquecemos e começamos a cobrar a contratação do Luis Suárez. Criticamos veementemente o fato de o Botafogo de Futebol e Regatas ter tido 5 técnicos diferentes em um único ano (2020). Quando temos uma comissão técnica com projeto de longo prazo, a pressão é para ele seja demitido após 3 meses, porque os resultados que não batem com nossas expectativas. O mesmo irá acontecer com o próximo, após 3 derrotas seguidas. É uma eterna insatisfação e incapacidade de sentir gratidão com o que já melhorou.

Isso não significa não termos ambições e levarmos uma vida medíocre. Nem significa desistir dos sonhos de protagonismo, conquistas e títulos. Significa apenas ser capaz de ver o positivo e experimentar gratidão. Isso gera uma valorização maior do que temos, o que nos ajuda a tolerar melhor o que nos incomoda—até que possamos fazer as mudanças que queremos.

O valor em Reais na imagem abaixo, era quanto o Botafogo tinha em conta bancária dia 04/07/2019. Hoje a realidade é abissalmente diferente para melhor. Temos que ter isso em mente. Do contrário, nada nunca estará bom o suficiente e, mesmo que o Messi seja contratado, a insatisfação irá focar apenas no que está por vir.

Vivemos os últimos 45 anos na penúria financeira, de títulos, de boas gestões e de baixa auto-estima como torcedor. Vamos cobrar com perspectiva do contexto—e de mudar o que for preciso com inteligência. Não vamos repetir a história do imediatismo. O futuro nos agradecerá ⭐️


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